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STF - Princípio da Insignificância

Princípio da insignificância é aplicado a furto de objetos de pouco valor


A Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) incluiu na primeira sessão
de 2011 a análise de quatro Habeas Corpus pedindo a aplicação do princípio
da insignificância (ou bagatela). Três deles foram concedidos, resultando na
extinção de ações penais.

Processos envolvendo o princípio da insignificância têm-se tornado cada vez
mais corriqueiros no STF. Uma dessas ações julgada pela Turma apurava a
tentativa de furto de dez brocas, dois cadeados, duas cuecas, três sungas e
seis bermudas de um hipermercado em Natal, no Rio Grande do Norte.

Ao conceder o pedido de Habeas Corpus para anular a ação penal, o relator do
processo, ministro Gilmar Mendes, ressaltou que o princípio da
insignificância se firmou “como importante instrumento de aprimoramento do
Direito Penal, sendo paulatinamente reconhecido pela jurisprudência dos
tribunais superiores, em especial pelo Supremo Tribunal Federal”, após
passar por um “longo processo de formação, marcado por decisões casuais e
excepcionais”.

Segundo ele, “não é razoável que o direito penal e todo o aparelho do
Estado-Polícia e do Estado-Juiz movimentem-se no sentido de atribuir
relevância típica a um furto de pequena monta”.

A outra ação penal trancada por decisão da 2ª Turma do Supremo tratava do
furto de uma bicicleta no valor de R$ 120,00, que acabou sendo devolvida ao
proprietário. O caso, que ocorreu no Rio Grande do Sul, foi debatido em um
Habeas Corpus que também era de relatoria do ministro Gilmar Mendes.

Em seu voto, ele afirma que “a despeito de restar patente a existência da
tipicidade formal (perfeita adequação da conduta do agente ao modelo
abstrato previsto na lei penal) — não incide no caso a tipicidade material,
que se traduz na lesividade efetiva e concreta ao bem jurídico tutelado,
sendo atípica a conduta imputada ao (réu)”.

Novamente, o ministro ressalta que, “quando as condições que circundam o
delito dão conta da sua singeleza, miudeza e não habitualidade”, não é
razoável que o Direito Penal e todo o aparelho do Estado-Polícia e do
Estado-Juiz sejam provocados.

O terceiro caso de aplicação do princípio da insignificância pela 2ª Turma
do Supremo anulou uma ação penal aberta para investigar o não recolhimento
de tributos em importação de mercadorias no valor de R$ 1.645,28. O debate
ocorreu na análise de Habeas Corpus de relatoria do ministro Joaquim
Barbosa, que aplicou precedentes da Corte sobre a matéria.

Conceito

O princípio da insignificância é um preceito que reúne quatro condições
essenciais para ser aplicado: a mínima ofensividade da conduta, a
inexistência de periculosidade social do ato, o reduzido grau de
reprovabilidade do comportamento e a inexpressividade da lesão provocada.

Em resumo, o conceito do princípio da insignificância é o de que a conduta
praticada pelo agente atinge de forma tão ínfima o valor tutelado pela norma
que não se justifica a repressão. Juridicamente, isso significa que não
houve crime algum.

Em maio de 2009, isso foi ressaltado em julgamento realizado pela Segunda
Turma do Supremo. Os ministros aplicaram o princípio da insignificância a
uma tentativa de furto de cinco barras de chocolate em um supermercado.

Nesse caso, o Superior Tribunal de Justiça (STJ) limitou-se a extinguir a
punibilidade do acusado. Mas a Turma, seguindo voto do relator do processo,
ministro Celso de Mello, reformou a decisão para absolver o réu e extinguir
a ação penal porque, segundo ele, a conduta sequer poderia ser considerada
crime.

É que a extinção da punibilidade por si só não exclui os efeitos
processuais. Ou seja, a tentativa de furto ficaria registrada e poderia
pesar contra o acusado no futuro, na qualidade de maus antecedentes. Ao ser
absolvido, o acusado é considerado primário caso se torne réu em outra ação.

Números

Dos 340 Habeas Corpus autuados no Supremo Tribunal Federal (STF) entre 2008
e 2010 pleiteando a aplicação do princípio da insignificância (ou bagatela),
91 foram concedidos, número que equivale a 26,76% do total.

Em 2008, chegaram ao STF 99 processos do tipo, sendo que 31 foram acolhidos.
Em 2009, dos 118 habeas corpus impetrados na Corte sobre o tema, 45 foram
concedidos. Já em 2010, o STF recebeu 123 HCs sobre princípio da
insignificância, acolhendo somente 15 desses pedidos.

Ao mesmo, em 2008, foram indeferidos ou arquivados 14 Habeas Corpus pedindo
a aplicação do princípio. Em 2009, 26 processos do tipo foram negados ou
arquivados. Em 2010, esse total subiu para 76.

Caso a caso

A jurisprudência do Supremo determina que a aplicação do princípio da
insignificância deve ser criteriosa e feita caso a caso. A Primeira Turma,
por exemplo, já reconheceu que o preceito pode ser aplicado a atos
infracionais previstos no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA).

A reincidência, entretanto, inviabiliza a aplicação do princípio. Em outubro
de 2009, a Primeira Turma negou pedido de Habeas Corpus em favor de um
adolescente acusado de roubar uma ovelha em Santiago, no Rio Grande do Sul.
A decisão foi tomada com base em informações do Tribunal de Justiça gaúcho
segundo as quais o jovem já havia se envolvido em outros atos infracionais
tendo, inclusive, sofrido medidas socioeducativas.

Os ministros também levaram em consideração o caráter educativo da
reprimenda, que determinou a inclusão do adolescente em um programa de
combate à dependência química. Segundo dados do processo, a mãe do jovem
declarou a autoridades locais que seu filho estava se envolvendo com
criminosos e vendendo objetos de sua casa para comprar drogas.

A Primeira Turma do STF também analisou pedidos de aplicação do princípio da
insignificância logo nas primeiras sessões deste ano. Um dos Habeas Corpus
beneficiaria dois condenados pelo furto de bicicleta avaliada em cerca de R$
100,00.

O pedido não foi concedido porque a vítima do crime era pobre, o que, para
os ministros, torna o valor do bem significativo. Com isso, continua valendo
a pena de dois anos reclusão e pagamento de multa imposta aos acusados, que
foi substituída por outra restritiva de direitos.

Também não é considerado insignificante pelo Supremo a posse, por militar,
de pequena quantidade de entorpecente em estabelecimento castrense. No dia
21 de outubro de 2010, por 6 votos a 4, a Corte firmou o precedente de que o
princípio da insignificância não pode ser utilizado para beneficiar
militares flagrados com reduzida quantidade de droga em ambiente militar. "O
uso de drogas e o dever militar são como água e óleo, não se misturam",
sintetizou o ministro Ayres Britto, relator do Habeas Corpus analisado na
ocasião.

O caso era de um militar surpreendido com pequena quantidade de maconha
durante expediente no Hospital Geral de Brasília (HGB), estabelecimento
castrense. Pela conduta, o militar foi enquadrado no artigo 290 do Código
Penal Militar e condenado a um ano de reclusão.

Em abril de 2009, a Segunda Turma do STF negou a aplicação do princípio da
insignificância a dois casos que envolviam condenação por furto e roubo de
quantidade ínfima de dinheiro. Um por causa da relevância, para a vítima, da
lesão jurídica provocada. A circunstância era de furto de toda renda obtida
em um dia de trabalho pela dona de um trailer de lanche no Rio de Janeiro. O
outro caso envolveu roubo com uso de arma de fogo e violência.

Novos casos

Logo no início deste ano chegaram ao STF novos Habeas Corpus pedindo a
aplicação do princípio da insignificância. Entre os pedidos, há um em favor
de acusado de roubar uma bicicleta no valor de R$ 150,00 na cidade de Santa
Maria, no Rio Grande do Sul. O roubo ocorreu em 2009.

A bicicleta chegou a ser devolvida ao dono e o acusado foi absolvido em
primeira instância e pelo Tribunal de Justiça do estado. Mas a ação penal
voltou a tramitar por decisão do Superior Tribunal de Justiça (STJ), que
acolheu recurso do Ministério Público do Rio Grande do Sul. Agora a defesa
recorre ao Supremo.

Outro habeas corpus pede a absolvição de pessoa condenada por colocar em
circulação duas cédulas falsas de R$ 50,00. A condenação foi determinada
pela 2ª Vara Federal do Rio Grande do Norte e confirmada pelo Tribunal
Regional Federal da 5ª Região, com sede em Recife (PE).

Um terceiro pedido foi feito em defesa de acusado pela tentativa de furto
de esquadrias de alumínio de um prédio desativado do Tribunal Regional do
Trabalho em Itabuna, na Bahia. A defesa pede o trancamento da ação penal sob
o argumento de que o acusado obteria um valor ínfimo com a venda das
esquadrias, abaixo de R$ 50,00.


Fonte: site do Supremo Tribunal Federal
http://www.stf.jus.br/portal/cms/verNoticiaDetalhe.asp?idConteudo=173584&tip