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Mulheres são apenas 3% do efetivo potiguar da PM, PC e Corpo de Bombeiros

Apesar de serem maioria na população do Rio Grande do Norte, as mulheres ainda são minorias em setores estratégicos como a segurança pública. Segundo o censo do IBGE de 2010, 51,11% da população norte-rio-grandense é do sexo feminino, mas representam apenas 3% do efetivo das Polícias Militar, Civil e do Corpo de Bombeiros. Essas corporações somam um universo de quase 16.700 integrantes.

O número de mulheres é ínfimo em relação à quantidade de homens no sistema. Mesmo assim, pela primeira vez na história, a Secretaria Estadual da Segurança Pública e da Defesa Social (Sesed) tem uma mulher à frente: a delegada Kalina Leite. Uma nomeação importante e que deve ser comemorada no Dia Internacional da Mulher, em 8 de março.

A Polícia Militar, maior corporação da segurança pública estadual, tem cerca de 9 mil homens contra 207 mulheres, ou seja, elas representam 2,36% da tropa. Com 179 anos (foi criada em junho de 1834), a  PM ainda apresenta uma desvantagem do sexo feminino no oficialato.

São 557 oficiais, sendo 520 do sexo masculino e apenas 37 (7,1%) mulheres.   No Corpo de Bombeiros Militar (CB) há 643 homens e apenas quatro mulheres, o maior desequilíbrio entre os sexos quando se trata em números. Não há praças (soldados) mulheres, apenas oficiais.

Também na Polícia Civil a situação das mulheres não é diferente. A instituição conta com um efetivo de 1.600 profissionais, sendo 353 mulheres. Muito pouco, porém,  o contingente feminino representa 7,2% do total, maior contingente feminino do sistema de segurança pública.    A Polícia Civil tem  214 delegados, sendo 180 homens e 34 mulheres delegadas, que representam 18,8% do total. As mulheres são maioria apenas na função de escriturário. De um pelotão de 160 escrivães, 82 (51,25%) são do sexo feminino.    
A secretária da Sesed,  Kalina Leite, disse que não há diferença entre o trabalho da mulher e do homem na polícia. “Eu penso que a mulher se cobra mais do que o homem quando assume um cargo desses (secretária) porque, equivocadamente, as pessoas pensam que é um sexo frágil e estão enganadas”, refletiu.    

A secretária disse que as mulheres são mais exigentes e cobradoras no trabalho que realizam. Dentro da corporação nunca houve nenhum problema de discriminação e frisou que sempre foi respeitada. Não existe em edital uma limitação de acordo com o sexo, explicou ela. O trabalho policial é mais procurado por homens por causa de situações como esforço físico. Mesmo assim, é crescente a procura de mulheres nos últimos concursos.    

O comandante da Polícia Militar do Rio Grande do Norte, coronel Ângelo Mário de Azevedo Dantas, disse que não se pode imaginar, hoje, a corporação sem a participação das mulheres em seu quadro efetivo. “Ela é importante e necessária”, destacou.    

A PM tem mulheres  em dois quadros: combatente, as que vão para a rua fazer o policiamento, e as que fazem parte do quadro de saúde. Coronel Ângelo Dantas é um estudioso sobre a participação feminina nos quadros da polícia e está escrevendo um livro sobre o assunto.    

Apesar de o primeiro concurso para ingresso de mulheres na PM ter ocorrido apenas em 1984, elas estão presentes na corporação desde a  Segunda Guerra Mundial. Segundo o comandante, na década de 1940 a dentista Odete Roselli foi contratada temporariamente pela PM para cuidar da saúde dental da tropa.   

Odete Roselli, falecida em maio de 2010, foi esposa de Luiz Maranhão, desaparecido político do Rio Grande do Norte. O primeiro contrato fixo, no entanto, foi com uma assistente social em 1948. São fatos como esse que o comandante pretende publicar. Ele é autor de dois livros já editados, “Cronologia da Polícia Militar do Rio Grande do Norte” e “A História do Hospital da Polícia Militar”.    

A comandante da Companhia Feminina da PM, capitã Soraia Maria Bezerril Castelo Branco, disse que o efetivo de mulheres ainda é muito pouco em relação ao número de homens. Segundo ela, das 207 mulheres da PM cerca de 50 estão nas ruas trabalhando no policiamento ostensivo.    

Para o comandante do Corpo de Bombeiros Militar, coronel Otto Ricardo Saraiva de Souza, não há distinção entre homens e mulheres dentro da corporação. “As mulheres fazem o mesmo trabalho de forma muito competente e peculiar para colaborar com a instituição, seja na área operacional ou no serviço administrativo”, destacou ele.    

O concurso previsto para o Corpo de Bombeiros não prevê distinção entre os sexos na concorrência para as 20  vagas para oficiais e 100 praças. A Procuradoria Geral do Estado está finalizando as normas para o processo de seleção e não há data prevista para sua realização.    

O NOVO JORNAL ouviu três mulheres que trabalham na parte operacional do sistema de segurança pública. Abaixo, o que elas pensam da carreira que escolheram.    

SHEILA , a dona do “trinta e oitozinho”    

A delegada da Divisão Especial de Investigação e de Combate ao Crime Organizado (Deicor), Sheila Freitas, 49,  vai completar 15 anos de Polícia Civil e não pensa em se aposentar tão cedo. “Só saio na expulsatória”, frisou ela.    

Sheila Freitas entrou na Polícia Civil em 2000. Na época havia cerca de dez delegadas,  lembrou ela, que um dia pensou em ingressar no Ministério Público. “Graças a Deus entrei para a Polícia. Acho que faço muito mais pela sociedade aqui”, frisou, sustentando o mérito de já ter solucionado, com êxito, dois casos de seqüestros de membros de uma mesma família de Mossoró.    

Em junho de 2012 o jovem empresário Porpino Fernandes Segundo, conhecido como Popó Porcino, foi vítima do mais longo seqüestro da história do RN. Ele passou 37 dias em poder de seus algozes, mas graças ao comando de Sheila Freitas, ele foi libertado ileso. Um ano depois, em 2013, Fábio Porcino, primo de Popó, foi sequestrado e mais uma vez a delegada conseguiu salvar um membro da ilustre família.   

A memória dos sequestros é só para lembrar a importância da delegada no setor operacional da polícia. E desafios sempre foram a bússola na vida dessa policial, que nos anos 1980 resolveu fazer o curso de Geologia na UFRN. Depois, foi trabalhar na Companhia de Desenvolvimento Mineral (CDM) e no Departamento Nacional de Produção  Mineral (DNPM),  onde ficou por 14 anos. Ali, se embrenhava no mato com bússola para fazer cartografia mineral.    

Casada, com três filhos, a delegada Sheila, que definitivamente não pode mais se expor como uma pessoa comum, disse que ainda faz compra em supermercados,  vai a salão de beleza, mas está sempre mudando de rotina.   

Ela é vaidosa. Não descuida da aparência, mas a dedicação ao trabalho na polícia ela diz que é uma missão.  Apesar de estar em um meio dominado pelos homens, comentou que na Polícia Civil nunca sentiu nem viu preconceito contra as mulheres delegadas, agentes ou escrivãs.  “Nunca senti preconceito”, frisou ela. A primeira delegacia que assumiu foi a de Furtos e Roubos, na Zona Norte. Naquela época, contou, 99% do contingente policial da delegacia era de homens. Além dela, só tinha duas agentes e uma escrivã.   

Foi na Furtos e Roubos que viveu sua primeira grande experiência em diligência, oportunidade em que foi vítima do humor dos colegas agentes. Saiu numa perseguição, na qual foi preciso até ir na contramão para prender os bandidos. Deu tudo certo, mas não escapou da brincadeira dos companheiros, que se referiam à sua arma como o “trinta e oitozinho” da delegada, que foi a primeira mulher titular de Caraúbas, quando o município do Oeste era conhecido pelo clima de violência que exalava.    

Confira a reportagem completa na edição impressa do NOVO Jornal.